Com o avanço tecnológico, o setor financeiro tem passado por transformações significativas, impactando diretamente os consumidores. Uma prática que ganhou destaque recentemente é o bloqueio de celulares como garantia para empréstimos. Apesar de parecer uma solução inovadora, essa abordagem tem gerado controvérsias e levantado questões jurídicas sobre a proteção dos direitos dos consumidores.
O uso do celular como garantia pode parecer inusitado, mas está se tornando cada vez mais comum, especialmente entre empresas de microcrédito. Essa prática levanta uma série de implicações legais e práticas, bem como preocupações sobre a privacidade e a segurança dos dados pessoais dos consumidores.
Como Funciona o Bloqueio de Celulares por Dívida?

A ideia principal por trás do bloqueio de celulares como garantia de empréstimo é simples: se o consumidor não pagar suas parcelas em dia, a instituição financeira pode bloquear certas funcionalidades do celular. Em geral, isso é feito através da instalação de um aplicativo no aparelho, que dá à empresa a capacidade de restringir o uso do dispositivo.
SuperSim, uma das empresas líderes nesse modelo de negócio, utiliza uma tecnologia que permite o bloqueio remoto das funções do celular. Segundo a empresa, mesmo em caso de bloqueio, funções essenciais como chamadas e SMS ainda operam, permitindo que o usuário continue utilizando o aparelho para tarefas básicas.
O que Diz a Lei Sobre o Bloqueio de Celulares?
O debate jurídico em torno do bloqueio de celulares é complexo. Não existe uma legislação específica que regule essa prática, colocando-a em uma “zona cinzenta jurídica”. Segundo Marcelo Roitman, sócio do escritório PLKC, o empréstimo pode ser considerado legal, mas o bloqueio de funções essenciais do celular pode ser interpretado como ilegal.
Os celulares são ferramentas essenciais para o trabalho e, conforme o artigo 833 do Código de Processo Civil, são considerados impenhoráveis. Além disso, a prática pode infringir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que exige que o tratamento de dados pessoais seja restrito à finalidade pretendida.
Questões de Privacidade e Segurança dos Dados
A LGPD estabelece que a coleta e o tratamento de dados devem ser proporcionais e necessários. Bloquear um celular de forma que o usuário não consiga acessar funções básicas pode exceder essa necessidade, gerando preocupações sobre a conformidade legal dessa prática.
A advogada especializada em Direito Digital, Larissa Pigão, destaca que a LGPD exige que qualquer tratamento de dados seja minimizado ao essencial. A SuperSim, por sua vez, afirma que não tem acesso aos dados pessoais armazenados no celular do consumidor, conforme as exigências da LGPD.
Como Resolver as Disputas Judiciais?
Caso um consumidor se sinta prejudicado pelo bloqueio do seu celular, é possível buscar recursos legais. Marcelo Roitman sugere que os consumidores afetados procurem um Juizado de Pequenas Causas para obter ajuda jurídica e propor uma ação judicial para desbloquear seus aparelhos.
A SuperSim recebeu uma decisão favorável em novembro de 2023 pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), permitindo que continuasse oferecendo empréstimos com garantia de bloqueio de celular. No entanto, a Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) continua em andamento.
Cuidados ao Contratar Empréstimos com Garantia de Celular
- Verifique o Custo Efetivo Total (CET) do empréstimo.
- Compare as condições oferecidas por diferentes instituições financeiras.
- Confirme a regularidade da instituição no Banco Central.
- Evite pagamentos antecipados e fique atento a boletos falsos.
- Considere a segurança da operação e os possíveis riscos.
Segundo a planejadora financeira Luciana Ikedo, é crucial que os consumidores ponderem todas essas variáveis antes de fechar um contrato de empréstimo. O planejamento financeiro cuidadoso e a análise detalhada dos termos podem prevenir problemas futuros e garantir uma gestão financeira mais segura e eficiente.
O caso da SuperSim continua sendo analisado judicialmente, e é fundamental que os consumidores estejam bem-informados sobre as implicações dessa prática controversa. A atenção aos detalhes e a busca por informações transparentes são essenciais no cenário atual, onde a inovação tecnológica se cruza com a necessidade de proteger os direitos do consumidor.