O direito ao aborto quando se trata de estupro, uma das poucas situações permitidas pela legislação brasileira, enfrenta obstáculos consideráveis, indo além das leis até as influências culturais e religiosas. Esta questão sensível acarreta uma complexa rede de consequências psicológicas, sociais e físicas para as vítimas.
Qual é a atual legislação brasileira sobre o aborto em casos de estupro?

O Código Penal do Brasil autoriza a interrupção da gravidez em três casos específicos: quando há risco à vida da mãe, em condições de anencefalia do feto ou quando a gravidez é resultado de um estupro. Apesar de assegurado por lei, o acesso ao procedimento em caso de violência sexual muitas vezes é dificultado por barreiras não legais, como pressões religiosas e o estigma associado à vergonha familiar.
O impacto da religião e da família na decisão sobre o aborto
Raquel Lázaro, uma experiente conselheira tutelar, compartilha sua vivência no atendimento a crianças e adolescentes vítimas de estupro. Ela revela que, frequentemente, a religião e a reação da família emergem como obstáculos significativos para que adolescentes e crianças acesso o direito ao aborto legal. A pressão para manter a gravidez muitas vezes prevalece, mesmo diante de uma legislação clara.
Os desafios enfrentados pelas jovens vítimas de estupro
Muitas jovens sofrem em silêncio, com medo de retaliação ou culpabilização pela violência sexual sofrida. Isso atrasa o reconhecimento da gravidez e, consequentemente, a procura por suporte legal e médico adequado. Essa demora pode complicar ainda mais a situação, deixando marcas profundas no bem-estar físico e mental das vítimas.
De acordo com Raquel, a vergonha familiar desempenha um papel cruel, chegando a ocultar o crime para proteger a imagem da família em vez de apoiar a vítima. Não raro, isso leva a violações adicionais dos direitos das jovens, que são mantidas em isolamento ou forçadas a conviver com seus agressores.
- IIustração do Desafio: Uma adolescente de 15 anos, citada pelos profissionais do Serviço de Atenção ao Aborto Legal, tentou suicídio duas vezes devido às repercussões do estupro e da gravidez subsequente.
- Suporte profissional: Equipes interdisciplinares, incluindo assistentes sociais e médicos especializados, são fundamentais para apoiar as vítimas, oferecendo não apenas cuidados médicos, mas também apoio emocional e legal.
Reformas legais são constantemente debatidas, como mostra o caso do PL 1904, que busca equiparar o aborto em gestações avançadas resultantes de estupro a um homicídio simples. Este debate destaca a contínua tensão entre visões conservadoras e o direito das mulheres à autonomia corpórea, especialmente em situações de extrema vulnerabilidade.
Portanto, apesar da proteção legal existente, muitos são os desafios ainda enfrentados por vítimas de estupro que procuram aborto legal no Brasil. A luta pelo acesso ao direito sem impedimentos reflete também uma luta mais ampla pela dignidade, proteção e compreensão de suas complexas necessidades e direitos.