Em meio a um cenário econômico brasileiro com crescimento e estabilidade, o desempenho dos shopping centers parece contradizer as expectativas. Nos primeiros cinco meses do ano, o setor não avançou conforme previsto, mesmo com fatores macroeconômicos aparentemente favoráveis, como emprego em alta e inflação controlada. Uma questão que levanta curiosidade e debate entre os especialistas do mercado.
De acordo com Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), “é um momento peculiar para o setório, já que, apesar de indicadores operacionais sólidos, as vendas permanecem estagnadas”. Esse fenômeno desperta a necessidade de uma análise mais profunda para entender os elementos que estão influenciando tal comportamento.

No acumulado de janeiro a maio, as vendas dos shoppings tiveram queda nominal de 0,4%
Carlos Grevi/Terceira Via
Por que as vendas nos shoppings estão abaixo do esperado?
No mês de maio, observou-se uma leve melhora nas vendas, que subiram 1,5% em relação ao ano anterior. No entanto, este incremento ainda não é suficiente para marcar uma recuperação consistente no setor. Além disso, o tíquete médio de compras recuou para R$ 121,55, o que representa uma queda de 6% comparado ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Abrasce.
A complexidade da situação amplia-se com os dados de junho, que apontam para uma queda de 1,8% nas vendas durante o Dia dos Namorados, período tipicamente lucrativo para o comércio. Esse declínio foi uma surpresa negativa para a entidade, que esperava um aumento de 4,2% nas vendas.
Impacto da elevação da taxa de juros e dívida familiar
Uma das hipóteses para explicar essa estagnação nas vendas pode estar ligada aos níveis ainda elevados de endividamento das famílias brasileiras, além de taxas de juros altas, que dificultam o financiamento de longo termo, como a compra de produtos de maior valor agregado. Tais condições financeiras desfavoráveis podem estar limitando o poder de compra dos consumidores, especialmente aqueles de média renda, que são o público alvo dos shoppings.
Desafios e projeções para o restante do ano
Olhando para o futuro, embora haja uma expectativa de melhoria nas condições econômicas do país e, consequentemente, uma reação positiva nas vendas dos shoppings, incertezas como as eleições municipais e situação fiscal do país podem influenciar negativamente o mercado. Além disso, a recente “taxa das blusinhas”, que visa equilibrar a competição dos produtos importados com os locais, pode trazer algum alívio para os comerciantes, mas seu impacto a longo prazo ainda será observado.
O presidente da Abrasce está cauteloso para revisar as projeções de crescimento de 4% para 2024, considerando o desempenho abaixo do esperado até agora. Com esse panorama, investidores e comerciantes se mantêm atentos aos próximos relatórios, na esperança de que o mercado de shopping centers possa encontra um caminho para retomar seu crescimento usual.