A morte é uma certeza universal, mas cada pessoa reage de forma única à perda de alguém querido. Recentemente, pesquisadores têm se debruçado sobre como nosso cérebro processa o luto, desvendando aspectos que vão muito além do emocional. Entender esses mecanismos pode nos ajudar a lidar melhor com a dor da perda.
O luto é frequentemente descrito como o preço emocional que pagamos por amar alguém. Esta complexidade é capturada em estudos neurocientíficos que explicam o que ocorre em nosso cérebro quando perdemos uma pessoa importante. Essa jornada de descoberta científica oferece uma nova luz sobre um processo que todos nós, em algum ponto, experimentaremos.
O que acontece em nosso cérebro durante o luto?

A neurociência tem avançado na explicação dos fenômenos que ocorrem no cérebro ao enfrentarmos a morte de alguém próximo. Segundo a neurocientista Zoe Donaldson, da Universidade do Colorado, o vínculo estabelecido com a pessoa amada cria alterações físicas nos neurônios.
Quando esse vínculo é rompido pela morte, inicia-se um conflito interno. De um lado, o cérebro registra a perda e suas memórias associadas, enquanto, por outro lado, continua operando como se o ente amado ainda estivesse presente. Esse desencontro de informações gera desde estresse e frustração até a profunda tristeza característica do luto.
Estudos com arganazes do campo e seu impacto na compreensão do luto
O processo de luto também foi observado em arganazes-do-campo, roedores conhecidos por sua monogamia. Estudos mostram que esses animais, ao perderem seus parceiros, manifestam comportamentos semelhantes ao luto humano, como estresse e depressão. Esses estudos são fundamentais para entender os impactos neurobiológicos da perda.
Os argumentos dessas pesquisas são reforçados pela declaração do neurobiologista Oliver Bosch, da Universidade de Regensburg na Alemanha, que analisou o comportamento dos arganazes e observou que áreas do cérebro relacionadas ao prazer e recompensa, como o núcleo accumbens, mostram-se afetadas após a separação.
É possível superar o luto?
Apesar das dificuldades que o luto nos apresenta, especialistas como O’Connor e a médica Katherine Shear, da Universidade Columbia, defendem que é possível sim aprender a conviver com a ausência. O tratamento do luto envolve reconfigurar os circuitos neurais e criar novas conexões, um processo que exige tempo e experiências de vida renovadas.
O percurso para cada pessoa é único, e como aponta Jason Holland, do Centro Médico da Universidade Stanford, não se encaixa necessariamente na sequência dos estágios de luto propostos por Elisabeth Kübler-Ross. Em vez disso, é uma experiência dinâmica e altamente pessoal.
Partindo deste ponto, entendemos que o luto, além de natural, é uma parte integrante de nossa existência. Ele nos ensina sobre a fragilidade da vida e a importância das conexões que criamos. Assim como apontado na canção de Natalia Lafourcade, a morte nos ensina, finalmente, a repensar e valorizar a maneira como vivemos.

