Em uma descoberta que poderia redefinir partes da história do cristianismo inicial, um papiro com cerca de 1.600 anos foi identificado como possivelmente o registro mais antigo sobre a infância de Jesus Cristo. Este fascinante achado foi realizado através da análise cuidadosa de Gabriel Nocchi Macedo, um papirologista brasileiro, que agora ensina na Universidade de Liège, na Bélgica.
Macedo, original de Porto Alegre, se mudou para a Bélgica há 20 anos, onde mergulhou nos estudos de letras clássicas e papirologia, essa última sendo a ciência que investiga documentos escritos em papiros. Hoje, ele usa sua vasta experiência e conhecimento para explorar antigas coleções e museus, revivendo documentos que revelam segredos do passado.
Caravagio Pintura
O documento foi encontrado por Macedo e seu colega, Lajos Berkes, enquanto analisavam fotografias digitalizadas dos papiros armazenados na Universidade de Hamburgo. “Foi quase um acidente, ao olharmos as imagens, identificamos esse papiro escrito em grego antigo e reconhecemos uma passagem sobre a vida de Jesus”, explica Macedo.
Qual é a importância deste papiro para o estudo do cristianismo?
Apesar da aparência inicial pouco promissora, sendo um papiro pequeno e danificado, o documento traz um trecho do Evangelho de Tomé, um texto apócrifo que narra episódios da infância de Jesus, situando-os entre os seus primeiros “milagres”. Este fragmento, em específico, detalha o ato de Jesus dar vida a pássaros moldados em barro.
Essa narrativa, não reconhecida oficialmente por instituições cristãs como parte do cânone bíblico, revela práticas e crenças dos primeiros séculos do cristianismo. Além disso, o papel desse papiro é reforçar a ideia de que os textos iniciais do cristianismo eram majoritariamente redigidos em grego, a língua da cultura erudita da época.
Por que documentos como este são essenciais para a história?
O valor de documentos históricos atravessa os séculos e chama a atenção para a história menos explorada e talvez menos glamourosa. “Todas as fontes, mesmo as ‘menores’ e ‘feias’, podem ser extremamente importantes”, diz Macedo. Este papiro é um claro exemplo de como a perseverança e a dedicação à papirologia podem revelar partes importantes de nosso passado cultural e religioso.
A descobertura desta relíquia não só destaca o trabalho incansável dos papirologistas como também provoca um diálogo renovado sobre os contextos e interpretações dos textos religiosos históricos. Sem dúvida, peças como esta são fundamentais para construir um entendimento mais completo das origens das tradições que moldam a sociedade até hoje.
Assim, o trabalho de Gabriel Nocchi Macedo não apenas enriquece o campo acadêmico mas também contribui profundamente para a compreensão cultural e histórica geral, permitindo que pessoas ao redor do mundo tenham acesso a uma parte tangível da história humana que, de outra forma, poderia permanecer oculta.