O comunicado divulgado na quarta-feira, 31 de janeiro de 2024, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe um discurso mais “duro” (ou hawkish) por parte da instituição. A valorização expressiva do dólar e a piora das expectativas de inflação para este ano foram citadas como fatores de incerteza nos próximos passos do comitê, responsável por definir o patamar da taxa básica de juros do país, a Selic.
Manter os juros em patamares elevados tem o potencial de desacelerar a economia e reduzir o apetite dos investidores por ativos de risco. Além disso, essa decisão afeta diretamente a população, já que a taxa Selic influencia os juros de empréstimos e financiamentos, motores essenciais do consumo.
Impacto da Aumento da Selic nos Juros ao Consumidor

Muitas pessoas que pretendem tomar empréstimos se perguntam: vai ficar mais caro? São diversos fatores que determinam se uma instituição financeira reduzirá ou não os juros ao consumidor. O recente comunicado do Copom gerou ainda mais desconforto no mercado, sugerindo que os juros devem permanecer altos nos próximos meses.
As políticas de crédito de bancos e financeiras levam em consideração o patamar da Selic, os custos operacionais das instituições e o índice de inadimplência dos clientes. Essa combinação define o spread bancário, a diferença entre a taxa de captação e a taxa de empréstimo.
A Expectativa de Juros Elevados e Suas Consequências
Mesmo que a Selic não seja o único fator que influencia as taxas bancárias, é importante destacar que o repasse de mudanças no juro básico do país pode demorar de três a seis meses para chegar ao consumidor final. Atualmente, essa redução pode não ocorrer, segundo especialistas consultados pelo g1.
Maurício Godoi, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, avalia que, com a incerteza na definição da política fiscal do governo, o mercado de crédito pode começar a retrair. Ademais, um fator adicional que deve manter as taxas elevadas para o consumidor é a perspectiva de que o Banco Central não deve mais cortar juros neste ano, havendo até possibilidade de aumento das taxas.
Como Isso Deve Se Refletir no Mercado de Crédito?
Além da perspectiva de juros altos a curto e médio prazo, a inadimplência pode limitar ainda mais o crédito disponível. Caio Macedo, vice-presidente de estratégia da Equifax Boa Vista, explica que a inadimplência, que vinha caindo, agora se estabilizou. Com isso, se a Selic permanecer no atual patamar, o juro ao consumidor deve continuar semelhante ao que temos hoje.
Com a piora das projeções de inflação, o orçamento familiar tende a ser pressionado, diminuindo a renda disponível para quitar compromissos, o que também pode influenciar em um menor apetite por risco dos bancos. Esse cenário pode levar as instituições financeiras a oferecer créditos com prazos mais curtos e juros mais altos.
Quais as Expectativas à Frente para o Mercado de Crédito?
Mesmo com os programas de renegociação de dívidas do governo, a população brasileira está altamente endividada e encontra dificuldades para tomar crédito. Os bancos, por sua vez, estão mais cautelosos e tendem a evitar operações de médio e longo prazo com juros atrativos, devido à falta de previsibilidade.
Maurício Godoi conclui que a expectativa é de um crédito mais restrito, caro, e emergencial ao longo dos próximos meses. As instituições financeiras poderão oferecer condições menos favoráveis, atentos à instabilidade macroeconômica e às mudanças na política fiscal e monetária do país.
Para consumidores e investidores, o cenário atual exige cautela e planejamento, uma vez que a economia brasileira ainda enfrenta desafios significativos em 2024.

