O Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a julgar um dos casos mais polêmicos do direito previdenciário brasileiro, conhecido como “revisão da vida toda”. Este julgamento determinará se os segurados que ingressaram na Previdência Social antes de 1994 podem recalcular suas aposentadorias considerando todas as suas contribuições, desde o início da carreira, para obter um benefício mais vantajoso.
A questão se tornou um ponto de discussão acalorada, dado que envolve aspectos jurídicos complexos e divergentes interpretações ao longo dos últimos anos. Em meados de 2024, a situação era favorável aos aposentados, com o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o próprio STF alinhados em um entendimento pró-segurados.
Entendendo a Revisão da Vida Toda no STF

No entanto, a AGU (Advocacia-Geral da União) argumentou que a decisão poderia implicar um impacto financeiro desastroso para os cofres públicos, estimado em quinhentos bilhões de reais. Esse valor alarmante fez com que o Supremo Tribunal Federal reconsiderasse sua posição anterior.
Em março de 2024, nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 2.110/DF e 2.111/DF, o STF decidiu que os contribuintes não poderiam optar pela regra mais favorável para o cálculo de seus benefícios, alterando o cenário jurídico até então vigente.
Quais são as Implicações da Revisão da Vida Toda?
A principal questão a ser resolvida é como será a modulação dos efeitos desta nova decisão. Segundo o artigo 927 do Código de Processo Civil (CPC), mudanças na jurisprudência dominante podem ter seus efeitos modulados para preservar a segurança jurídica e o interesse social.
Os advogados que representam os aposentados argumentam que, pelo menos, os direitos daqueles que já ingressaram com ações judiciais durante a vigência da jurisprudência anterior devem ser mantidos. Entretanto, o ministro Nunes Marques, que relatoria a matéria, rejeitou os embargos de declaração que pediam essa salvaguarda.
Decisão Presencial no STF
O ministro Alexandre de Moraes solicitou que o caso fosse julgado presencialmente no plenário físico do STF, enfatizando a importância e complexidade do tema. Isso permitirá uma discussão mais ampla e detalhada sobre o impacto da revisão da vida toda nas finanças públicas e na vida dos segurados.
Segundo estudos apresentados pelo Instituto de Estudos Previdenciários (Ieprev), com base em dados do INSS e do CNJ, o impacto orçamentário pode ser muito menor do que o projetado pela AGU, variando entre 1,5 bilhões e 4,5 bilhões de reais em uma década. Mesmo no pior cenário, que considera pagamentos retroativos, o impacto não ultrapassaria 9 bilhões de reais.
Novos Estudos Econômicos
É crucial que uma decisão tão significativa seja baseada em dados econômicos precisos. Os números da AGU não devem ser aceitos sem contestação, e é fundamental permitir que novos estudos e pareceres econômicos sejam apresentados para garantir uma decisão justa e temperada.
Considerando que a discussão envolve não apenas argumentos jurídicos, mas também relevantes aspectos econômicos, é essencial que todas as partes interessadas possam mostrar seus números. O debate no plenário físico do STF, como defendido pelo ministro Alexandre de Moraes, será crucial para a definição do futuro da revisão da vida toda.
Em resumo, a “revisão da vida toda” é um dos temas mais críticos e complexos em debate no STF, envolvendo não só a interpretação de leis previdenciárias, mas também o impacto econômico para o país e milhares de aposentados que esperam por uma decisão definitiva.