O mais recente Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) no início desta semana, destacou um aumento nas previsões de inflação para o próximo ano. O índice projetado para 2024 foi ajustado para 4,00%, um ligeiro aumento em relação aos 3,98% da última semana, subindo dos 3,88% observados há um mês. Além disso, as expectativas para a taxa de câmbio em dezembro também foram revistas, sugerindo um real mais desvalorizado frente ao dólar, com a nova projeção atingindo R$ 5,20.
Essa tendência de elevação nas estimativas tanto para a inflação quanto para o câmbio indica um certo descompasso nas expectativas econômicas, fenômeno que o Banco Central tem descrito como “desancoragem das expectativas.” Apesar de um período de estabilidade nas taxas de juros, definido na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o mercado parece prever um cenário de contínua valorização do dólar e aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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O que significa a desancoragem das expectativas para a economia brasileira?
Para entender melhor o atual panorama econômico e o que esperar para os próximos meses, Forbes consultou especialistas que apontam para um segundo semestre de 2024 marcado por incertezas. José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios, explica que a volatilidade no câmbio e na bolsa de valores é uma resposta direta ao desfavorável cenário internacional. “Emergentes, como o Brasil, estão particularmente vulneráveis às decisões de política monetária dos Estados Unidos, que sinalizam retardar e reduzir os cortes de juros previstos inicialmente.”
Qual a repercussão do quadro fiscal na projeção econômica?
A crise fiscal emerge como um dos principais obstáculos. A dificuldade do governo em propor medidas efetivas para a redução do déficit fiscal culmina em críticas à condução das políticas econômicas pelo Banco Central. “As críticas recentes do governo às políticas monetárias e cambiais e a pressão por intervenções governamentais têm tornado o cenário ainda mais complexo para a manutenção das expectativas”, comenta Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos.
Quais são as expectativas para a economia nos próximos meses?
O especialista ainda destaca que a incerteza fiscal tem reflexos diretos sobre as condições de crédito e sobre o consumo das famílias, que vinham sustentando a recuperação econômica nos últimos trimestres. “A expectativa é de que o Banco Central possa retomar a elevação da Selic ainda no final de 2024 ou início de 2025, como resposta à inflação ainda descontrolada”, completa.
Diante de um cenário adverso, marcado por enchentes no Sul do país e uma promessa de déficit zero não cumprida pelos primeiros meses de governo, o mercado financeiro aumenta a pressão sobre as políticas econômicas. Rica Mello, outro economista consultado, ressalta: “O crescimento do país deve desacelerar enquanto as expectativas de inflação se mantêm altas. Os desafios são enormes, e a capacidade do governo de cortar gastos será determinante para o futuro econômico do Brasil.”
- Revisão das projeções de inflação para 4,00% em 2024.
- Taxa de câmbio projetada para R$ 5,20 até dezembro.
- Desancoragem das expectativas como principal desafio econômico.
- Possível retomada no aumento da Selic como resposta à inflação incontrolável.
Com tantas variáveis em jogo, os próximos meses serão cruciais para entendermos a direção que a economia brasileira irá tomar. Acompanhar os próximos relatórios e declarações do Banco Central será essencial para todos que desejam manter-se informados sobre as tendências econômicas do país.