Muitas vezes considerada sob a ótica do controle pessoal, a obesidade é um quadro muito mais complexo e agora, os avanços da ciência apontam para a genética como um importante fator. Recentemente, pesquisadores britânicos identificaram um componente genético que pode ser determinante na predisposição à obesidade, mudando a forma como entendemos e tratamos essa condição.
Embora o estilo de vida e escolhas alimentares sejam fatores significantes, a nova pesquisa sugere que alterações genéticas específicas também desempenham um papel crucial. Esta descoberta pode abrir caminho para tratamentos mais direcionados e personalizados contra a obesidade, beneficiando milhares de pessoas que lutam contra o aumento excessivo de peso.
O que dizem os especialistas sobre o componente genético na obesidade?

Segundo o Dr. Mattia Frontini da Universidade de Exeter, o estudo recente encontrou uma ligação direta entre a obesidade e o gene SMIM1. Indivíduos com duas cópias defeituosas deste gene apresentaram tendência a ganhar mais peso – mulheres com uma média de 4,6 kg a mais e homens com cerca de 2,4 kg a mais. Essa variação genética interfere diretamente no funcionamento da tireoide e consequentemente no metabolismo energético.
Quais são as implicações desta descoberta?
A descoberta não se aplica a todos, sendo uma condição relativamente rara, mas sua importância não pode ser diminuída. Isso porque, mesmo sendo raro, o defeito genético no SMIM1, uma vez identificado em uma população maior, sugere que a obesidade pode ser, de fato, mitigada ou tratada de forma diferente em determinados grupos.
Como pode evoluir o tratamento da obesidade a partir dessa pesquisa?
O próximo passo, segundo Frontini, é avaliar a possibilidade de tratamento da disfunção tireoidiana em pessoas com a mutação no gene SMIM1 com medicamentos existentes. Está planejado um ensaio clínico randomizado que verificará se o tratamento da tireoide pode efetivamente melhorar a qualidade de vida desses pacientes, oferecendo uma solução segura e de custo acessível.
Enquanto isso, especialistas em endocrinologia, como o Dr. Philipp Scherer do Touchstone Diabetes Center, celebram esse avanço. Apontam que o estudo não apenas identifica uma mutação geneticamente determinável, mas também proporciona uma nova perspectiva sobre como abordar e tratar a obesidade – algo que vai além das dietas rigorosas e exercícios, frequentemente recomendados e nem sempre eficazes para todos.
Como em todas as questões de saúde, a obesidade deve ser vista além dos estereótipos de falta de vontade ou preguiça. Os avanços científicos como este nos lembram que as soluções podem estar onde menos esperamos – e neste caso, em nosso próprio DNA.

