No Brasil, o debate sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ganha cada vez mais espaço. Estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros sofram com essa condição, segundo dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA). Entretanto, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) indicam uma preocupante tendência à banalização desse diagnóstico.
Em um estudo recente realizado pela Dra. Anaísa Leal Barbosa Abrahão, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, apenas três de quarenta e três crianças diagnosticadas clinicamente com TDAH realmente atendiam aos critérios clínicos para o transtorno. Este dado alerta para o excesso de diagnósticos equivocados que podem estar sendo realizados.
O que realmente constitui o TDAH?

TDAH é um transtorno neurodesenvolvimental que se caracteriza principalmente por problemas de atenção, desorganização, hiperatividade e impulsividade. Comumente, esses sinais se manifestam ainda na infância e podem se estender por toda a vida adulta. A Dra. Anaísa enfatiza que a compreensão dos sintomas ao longo das diversas idades é vital para evitar diagnósticos precipitados e estigmatizados.
Quais são os principais tipos de TDAH?
O TDAH pode se apresentar de três formas principais: tipo desatento, tipo hiperativo-impulsivo e tipo combinado. Cada um deles possui características específicas:
- O tipo hiperativo-impulsivo é marcado por uma inquietude excessiva e dificuldade em controlar impulsos, levando a interrupções frequentes nas conversas.
- No tipo desatento, os desafios concentram-se na manutenção da atenção e na organização de tarefas, com erros comuns por falta de foco.
- O tipo misto ou combinado reúne sintomas dos dois anteriores, representando uma dualidade entre desatenção significativa e agitação.
Como melhorar a precisão do diagnóstico de TDAH?
A Dra. Alicia Coraspe, neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP-USP), destaca algumas recomendações importantes para aprimorar a acuracidade dos diagnósticos de TDAH. Primeiramente, é crucial distinguir o comportamento normal da infância dos padrões de comportamento típicos do transtorno. Além disso, é necessário atentar-se para a possibilidade de sintomas em adultos serem confundidos com outras condições psicológicas ou físicas, como ansiedade, depressão ou disfunções da tireoide.
O aumento na utilização de dispositivos digitais e as mudanças no estilo de vida também são apontados como fatores que podem influenciar a elevação de consultas médicas relacionadas ao TDAH. Portanto, entender o contexto e os hábitos do indivíduo antes de proceder com qualquer diagnóstico é de extrema importância para evitar falsos positivos.
Assim, com uma abordagem cuidadosa e detalhada, é possível fornecer não apenas um diagnóstico mais preciso, mas também orientar melhor as famílias sobre como manejar o TDAH, garantindo suporte adequado e melhor qualidade de vida aos indivíduos afetados.